1.10.07

Territórios de Transição #3

TERRITÓRIOS DE TRANSIÇÃO #3_Terrenos Baldios da Zona Portuária de Lisboa

LARA ALMARCEGUI

Fotografia
23 Junho > 08 Setembro 2007
Exposição comissariada por Luís Serpa e organizada no âmbito da Trienal de Arquitectura de Lisboa 2007

A landscape is a space deliberately created to speed up or slow down the process of nature. As Eliade expresses it, it represents man taking upon himself the role of time.

[J.B. Jackson in Corner, Jones (Editor), «Recovering Landscape: Essays in Contemporary Landscape Architecture», Princeton Architectural Press, New York, 1999]

[01.] Introdução
O Pavilhão de Portugal [Parque das Nações], desenhado por Álvaro Siza Vieira para a Exposição Universal de 1998, acolheu o núcleo central da Primeira Trienal Internacional de Arquitectura de Lisboa, que decorreu entre os dias 31 de Maio e 31 de Julho de 2007 e teve como tema «Vazios Urbanos», abordando os espaços caídos em desuso, ignorados ou expectantes que são uma parte significativa da estrutura das cidades do século XXI».
Territórios de Transição é uma exposição comissariada por Luís Serpa apresentada em três partes, tanto na galeria como num espaço exterior, todas elas integradas num programa de actividades de extensão e consideradas iniciativas exteriores ao núcleo central da trienal.
Territórios de Transição #3 inclui obras de Lara Almarcegui.

[02.] Vazios Urbanos
Os «Vazios Urbanos» constituem o tema central da Primeira Trienal Internacional de Arquitectura de Lisboa. São espaços expectantes, mais ou menos abandonados, delimitados no coração da cidade tradicional, ou indefinidos nas periferias difusas. São manchas de «não-cidade», espaços ausentes, ignorados ou caídos em desuso, alheios ou sobreviventes a quaisquer sistemas estruturantes do território.
Para estes «Vazios Urbanos», em muitas cidades do mundo, equacionam-se, debatem-se e concretizam-se novos conceitos e estratégias de intervenção, modelos de sustentabilidade e de gestão, bem como plataformas de interacção público/privado.
Também os «Vazios Urbanos» de Lisboa estão na ordem do dia e colocam inúmeras questões: Parque Mayer, Feira Popular, Vale de Alcântara, Vale de Chelas, Matinha, Xabregas, Poço do Bispo ou Porto de Lisboa. Ou, na outra margem do Tejo, o Ginjal, a Margueira, Quimiparque e Siderurgia. Ou ainda, na orla difusa, da Amadora à Falagueira, de Queluz à Portela de Sintra. Em toda a região metropolitana, os «Vazios Urbanos» são hoje notícia a pretexto de grandes projectos imobiliários que alteram profundamente a paisagem da cidade e território lisboetas.
Com este pano de fundo, a Trienal Arquitectura de Lisboa propõe-se reflectir, debater e equacionar soluções, propostas, meios e instrumentos de intervenção. Nos palcos do fórum será dada voz a todos os actores: arquitectos, urbanistas, paisagistas e outros autores e pensadores. Como, também, a entidades administrativas, investidores, promotores e construtores envolvidos nas transformações em perspectiva para a metrópole lisboeta. Mas, tendo na mente que esta Trienal, embora sedeada em Lisboa, é um evento nacional, abre-se também este debate à metrópole portuense.
O futuro das principais cidades e territórios urbanos do planeta depende, em muito, do destino destes «Vazios Urbanos». E com estes, também, está chegada a altura de pensar e equacionar as áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto do século XXI.

[José Mateus em sinopse Trienal Internacional de Arquitectura de Lisboa 2007]

[03.] Lara Almarcegui: Trabalhos sobre Terrenos Baldios da Cidade
Falar sobre a paisagem, tanto natural como urbana, conduz-nos à definição do espaço, quantificável a partir do seu nível da extensão horizontal ao conceito da sua transformação vertical, deslizando a ideia-de-paisagem para o conceito-de-paisagem, ou seja, do sonho para a realidade. Esta construção mental confronta-se com aquela que confunde frequentemente a paisagem com «terra» (land) ou «ambiente» (environment) mas baseia-se fundamentalmente na exploração das relações existentes entre o nosso conceito de cultura e a definição de natureza.
A formação de «novas» paisagens, ou o seu aparecimento/desaparecimento, permite equacionar a possibilidade do restauro a partir dos escombros, gerando novas formas através da criação de novos espaços, ora domésticos ora públicos, sobretudo a partir de fragmentos paisagísticos resgatados a loteamentos elaborados pelo meticuloso arranjo urbanístico ou, então, a partir daqueles emergentes da transfiguração dessa mesma paisagem domesticada.
A atitude de procura desses «vazios» na malha urbana, assumida como forte experiência do lugar, constrói-se como situação contrária ao espírito racionalista do(s) gestor(es) da(s) cidade(s) e permite encontrar pedaços de não-cidade que proporcionam momentos de liberdade, desprovidos que estão de uma função definida. Estes descampados, apropriados por Lara Almarcegui, são terrenos vazios que guardam em si pedaços de memória e que se constituíram como projectos passados e futuros mas que, expropriados pela acção artística presente permitem intervenções, transformações ou conversões imaginárias que funcionam como momentos de reflexão sobre a prática do palimpsesto, i.e., da construção sobre ruínas.
Apesar de tudo, a permanência da ruína, derivada da atitude consciente e deliberada de produzir e manter as demolições, deriva do pensamento reducionista de considerar a paisagem urbana «como um simples objecto cénico», desligada que está da complexidade social, económica ou ecológica que a devia enformar. A reciprocidade entre o modo-de-ver a paisagem natural e o modo-de-construção da paisagem urbana, aparece tão somente quando é possível percorrer e descobrir os descampados produzidos pela regressão da cidade e funcionam apenas enquanto espaço provisório de memória. A existência destes vazios negativos, proporcionam contudo a definição e o encontro com um novo espaço, nos quais é ainda possível descobrir o valor da perda, da desvalorização e do momento esquecido, agora como uma potencialidade e com vitalidade capaz de proporcionar a posse do lugar, o seu controlo, e, portanto, a sua reconstrução. Dominando, assim, o reencontro da imagem artificial(izada) da paisagem com o seu arquétipo, o sentimental sentido de nostalgia do conceito ambientalista é, ainda, uma tentativa de equilíbrio de um «ecossistema» baseado em valores não hierarquizados pela sociedade desenvolmentista surgida no auge do modernismo.
Este sentimento de «pertença» assim recuperado, no qual se evidenciam as experiências ingénuas de auto-construção, de hortas urbanas junto às auto-estradas ou de jardins aprisionados nas traseiras da cidade encenada, conduzem L.A. a ocupar estas zonas como espaço-de-trabalho tal como primeiramente o tinham sido como espaço-recreativo concebidos e utilizados como resposta aos espaços massivamente planificados. A este contraste, assumido em alguns casos como contestação àqueles outros desenhados pelos visionários utópicos da cidade-ideal, adiciona-se o esventramento permanente dessa mesma cidade que L.A. percorre num processo de mapeamento constante, tentando perceber o seu crescimento através das sucessivas acções de reconfiguração do seu sistema nervoso subterrâneo que se desenvolve radicalmente e que constitui um desafio caso se identificasse com um processo de escavações cujo único objectivo fosse o de assinalar em permanência o acto de descobrir e encobrir o lugar seleccionado num continuum sem limite, sem fim e sem propósito.

[Luís Serpa em Dossier de Imprensa 05/05 publicado por ocasião da exposição de Lara Almarcegui na Galeria Luís Serpa Projectos, Lisboa]

[04.] Descripción General del Trabajo: Demoliciones, Descampados, Escombros
En mis proyectos cuestiono el urbanismo a través del estudio de lugares que se escapan a la definición de ciudad y de arquitectura como descampados o edificios abandonados que por olvido o dejadez se escapan a un diseño definido. Me interesan lugares en situación de cambio que enseñan la inestabilidad de la ciudad, edificios antes y durante su demolición.
Los proyectos que realizo para presentar estos espacios se desarrollan con tres formas distintas: la realización de acciones físicas con el mensaje muy directo sobre cómo involucrarse con el lugar: como cavar en un descampado o restaurar un mercado que van a demoler. O largas investigaciones, como pasar años integrándome en una comunidad de hortelanos o calcular los materiales de construcción de toda una ciudad. Y por último, trabajos que traen al público directamente al “lugar de interés” como cuando llevo al público a ver demoliciones.
Estos proyectos se han radicalizado al ganar medios para lograr hacer lo que quería: así como empecé escribiendo “Mapas turísticos” de descampados en Ámsterdam; más adelante abrí puertas de descampados que estaban cerrados al público en Bruselas y, en mis últimos proyectos, he conseguido que un terreno del puerto de Rotterdam y un terreno de la ciudad minera de Genk se queden como descampados por mucho tiempo
[Lara Almarcegui]

[05.] Proyecto para Lisboa_Guia de Terrenos Baldíos de Lisboa
El proyecto consiste en realizar un estudio de los terrenos baldíos que hay en Lisboa actualmente y publicar una Guía con información a cerca de ellos. La Guía de Terrenos Baldíos incluirá un mapa que los localiza en la ciudad; una selección de terrenos baldíos, cada uno tendrá una imagen y un texto que cuente lo que sucede en cada terreno.
Actualmente la zona portuaria está llena de descampados, pero están desapareciendo por eso es importante recoger la memoria de estos lugares cuanto antes.
El trabajo tiene varias etapas: primero una investigación de dónde están los descampados de Lisboa; una selección de los descampados más interesantes; luego hay que averiguar información sobre cada uno de los descampados: qué hay en este momento; qué hubo en el pasado qué planes hay.
La Guía incluirá una selección de baldíos do Porto de Lisboa, Doca Pesca, industrias demolidas cerca del puerto, terrenos baldíos.

[06.] Formalización
La intención es publicar la Guía en una edición grande (1.000), que se puede distribuir en un espacio expositivo relacionado con la Bienal de Arquitectura o otros; el proyecto también se puede trasformar en una conferencia performance en la que describo los descampados de Lisboa elaborando durante una hora un recorrido por los descampados mostrando imágenes de cada descampados y describiéndolos.

[07.] A Cerca del Interés de los Descampados
Los descampados son fundamentales por que son los únicos lugares de la ciudad que no están diseñados por arquitectos, urbanistas, políticos y constructores. En la ciudad europea contemporánea excesivamente racionalizada los descampados son los únicos lugares abiertos a la posibilidad donde los ciudadanos pueden sentirse libres. Los descampados pueden utilizarse de muchas formas espontáneas, pero el mayor interés de los descampados no es la utilización que se les pueda dar sino su significación como “posibilidad abierta” y su potencial evocativo.
En los descampados se pueden experimentar todo tipo de procesos que normalmente la ciudad esconde; como entropía, decadencia, naturaleza completamente silvestre, tiempo y naturaleza tomando construcciones.

[08.] Antecedentes del Proyecto
He realizado anteriormente otros proyectos de Guías de No Arquitectura que incluyen terrenos baldíos y a veces edificios abandonados:  en Ámsterdam publiqué «Wastelands Map Amsterdam a Guide to the Empty Sites in the City», Amsterdam 1999. Un mapa que recogía información sobre 28 descampados de los cuales actualmente han desaparecido 24.
En Lund publiqué la «Guide to Non Delimited Places in Lund: Empty Lots, Wastelands, Abandoned Buildings», Lund 2005. En São Paulo «Guía de Terrenos Baldíos de São Paulo una Selecção dos Lugares Vazios Mais Interesantes da Cidade», publicada para la 27 Bienal de Sao Paulo 2006;
En Liverpool dentro del marco de la National Architectural Week realizamos un paseo por los descampados de la ciudad en 2002.

Obras Expostas Exhibited Works

LARA ALMARCEGUI
> TERRENO DA PRAIA DE ALGÉS, 2007 [#L.A. 01/07]
Fotografia a cores, 30 x 45 cm
Coloured photography, 30 x 45 cm

LARA ALMARCEGUI
> TERRENO DO VIADUTO, 2007 [#L.A. 02/07]
Fotografia a cores, 30 x 45 cm
Coloured photography, 30 x 45 cm

LARA ALMARCEGUI
> PONTA DE DOCA DE PEDROUÇOS, 2007 [#L.A. 03/07]
Fotografia a cores, 30 x 45 cm
Coloured photography, 30 x 45 cm

LARA ALMARCEGUI
> TERRENO DO CENTRO DE CONGRESSOS, 2007 [#L.A. 04/07]
Fotografia a cores, 30 x 45 cm
Coloured photography, 30 x 45 cm

LARA ALMARCEGUI
> REFINARIA SIDUL, 2007 [#L.A. 05/07]
Fotografia a cores, 30 x 45 cm
Coloured photography, 30 x 45 cm

LARA ALMARCEGUI
> FORNOS POMBALINOS, 2007 [#L.A. 06/07]
Fotografia a cores, 30 x 45 cm
Coloured photography, 30 x 45 cm

LARA ALMARCEGUI
> VALE DE SANTO ANTÓNIO, 2007 [#L.A. 07/07]
Fotografia a cores, 30 x 45 cm
Coloured photography, 30 x 45 cm

LARA ALMARCEGUI
> BRAÇO DE PRATA, 2007 [#L.A. 08/07]
Fotografia a cores, 30 x 45 cm
Coloured photography, 30 x 45 cm

LARA ALMARCEGUI
> FÁBRICA DE GÁS DA MATINHA, 2007 [#L.A. 09/07]
Fotografia a cores, 30 x 45 cm
Coloured photography, 30 x 45 cm

LARA ALMARCEGUI
> JARDIM CABEÇO DAS ROLAS, 2007 [#L.A. 10/07]
Fotografia a cores, 30 x 45 cm
Coloured photography, 30 x 45 cm